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Disco de samba-enredo do carnaval 2025: na nova boa safra, escolas campeãs de 2024 saem na frente

Dec 2, 2024 IDOPRESS
Capa do disco,que só tem versão digital: Rute Alves,da Viradouro,fotografada por Renata Xavier — Foto: Reprodução

Capa do disco,que só tem versão digital: Rute Alves,da Viradouro,fotografada por Renata Xavier — Foto: Reprodução

RESUMO

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GERADO EM: 01/12/2024 - 19:19

Carnaval 2025: Sambas e Enredos Surpreendentes

O carnaval 2025 promete com sambas-enredo surpreendentes! Viradouro,Imperatriz,Grande Rio e Unidos da Tijuca na liderança. Anitta participa,mas destaque é Ito Melodia. Escolas investem em enredos afro e amazônicos. Salgueiro e Vila Isabel também se destacam. Disco acerta nos arranjos,mas algumas locuções são desnecessárias. Terceiro grupo mostra Unidos de Padre Miguel,Portela e Mangueira com sambas menos inspirados. Tudo pode mudar até março!

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Não tem jeito: a temperatura sobe,uma musicalidade típica do fim do ano toma conta das ruas (nem todas,infelizmente)... E,quando menos se espera,chega o carnaval.

Esta segunda-feira,2 de dezembro,é Dia Interplanetário do Samba,já comemorado por antecipação com três dias de minidesfiles das escolas do Grupo Especial na Cidade do Samba. E a trilha sonora,ansiosamente esperada pela comunidade do samba,já está no streaming,com uma belíssima foto da campeã 2024,a Viradouro,representada pela porta-bandeira Rute Alves (infelizmente,só no digital mesmo).

Três dias? Hmmmm. Não por acaso,os desfiles oficiais de 2025,no começo de março,serão pela primeira vez divididos em três noites,com quatro escolas em cada subgrupo. Já que é assim,os próprios sambas podem seguir uma compartimentação análoga,como uma convenção da bateria.

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O primeiro degrau do pódio,por coincidência,tem as três primeiras colocadas deste ano e uma ilustre convidada. A campeoníssima Unidos do Viradouro abre o disco com uma pérola,“Malunguinho,o mensageiro de três mundos”,com a história da entidade afro-indígena espelhada no líder quilombola pernambucano João Batista,cultuado no Nordeste. Se vai mais uma vez pelo caminho das religiões de matriz africana (ainda que a bordo de uma história totalmente diferente),a alvirrubra de Niterói desta vez aposta em um samba mais melódico e cadenciado do que o raçudo “Arroboboi,Dangbé”,liderado por um Wander Pires que parece no auge da carreira,domando os exageros que muitas vezes prejudicaram suas performances.

A atual vice-campeã também puxa as palmas no terreiro em “Ómi Tútu ao Olúfon – Água fresca para o senhor de Ifón”,rara incursão da Imperatriz (e do vitorioso carnavalesco Leandro Vieira) no mundo afro. O resultado é um samba de melodia redonda,puxado com delicadeza por Pitty de Menezes,uma das maiores revelações do carnaval recente,e a promessa de mais uma briga pela ponta,à qual deve se juntar a Grande Rio,bronze em 2024 e no grupo de elite dos sambas em 2025. A tricolor de Duque de Caxias vai ao Norte do Brasil – por onde passou com o impressionante “Nosso destino é ser onça”,deste ano – em “Pororocas parawaras: as águas dos meus encantos nas contas dos curimbós”. Assinado por compositores da Deixa Falar,escola de samba de Belém,o hino traz o sabor amazônico,degustado com precisão por Evandro Malandro,e um dos mais belos arranjos do disco. Ao trio vencedor de 2024 une-se a penúltima colocada,mais uma a investir na curimba: a Unidos da Tijuca – também rara nas incursões pelo terreiro – vem de “Logun-Edé: santo menino que velho respeita”. A voz feminina na gravação é dela mesma,Anitta,coautora do samba,que,se não compromete,também não abrilhanta a melodia,o que acontece ao surgir a voz do excelente Ito Melodia,dando o toque necessário de agressividade.

O quarteto intermediário de sambas-enredo pisa forte com o Salgueiro e seu “Corpo fechado”,em boa performance de Igor Sorriso (estreando na escola,na vaga que era de Emerson Dias até este ano) e um dos melhores refrãos da safra: “Macumbeiro,mandingueiro,batizado no gongá/ Quem tem medo de quiumba não nasceu pra demandar/ Meu terreiro é a casa da mandinga/ Quem se mete com o Salgueiro acerta as contas na curimba”,ao som dos atabaques da bateria Furiosa. Refrão contagiante,embora algo brega,também traz a Mocidade Independente de Padre Miguel,depois do hit do “Caju” de 2024: puxada por Zé Paulo Sierra,a gigante da Zona Oeste cita seu torrão,Deus e o carnavalesco Renato Lage,o Mago que retorna à casa em “Voltando para o futuro não há limites para sonhar”. Sonhar,afinal,não custa nada.

Outra escola com um carnavalesco de peso sonha com seu retorno ao título: “Quanto mais eu rezo,mais assombração aparece”,na Unidos de Vila Isabel,é puro Paulo Barros,outro mago,credenciado por dois Desfiles das Campeãs seguidos,que retoma um tema de sua era de ouro na Unidos da Tijuca,quando revolucionou e ganhou três títulos. Entre assombrações e autorreferências,a Vila vai bem nas mãos do intérprete Tinga e do mestre de bateria Macaco Branco. Fechando o grupo intermediário,um momento histórico: o último samba gravado por Neguinho da Beija-Flor,não fosse o maldito ano pandêmico de 2021,chegaria a 50 carnavais na escola de Nilópolis. A homenagem a Luiz Fernando Ribeiro do Carmo,o Laíla (1943-2021) une duas lendas do carnaval em um samba honesto,mas que pouco sai da fórmula da Beija-Flor nas últimas décadas,repetindo,por exemplo,o clichê “Quilombo Beija-Flor”,já cantado em verso e prosa.

A produção do disco acerta nos arranjos e na gravação das baterias (que não,nunca será igual a 300 ritmistas ao vivo) e na identidade sonora (ainda tímida) das agremiações,mas algumas locuções “épicas” no início das faixas soam desnecessárias. Chora logo,cavaco!

O terceiro degrau da safra 2025 começa com a velha novata Unidos de Padre Miguel. A rival territorial da Mocidade,fundada em 1957,volta à elite do carnaval depois de mais de 50 anos com um enredo afro,como é sua identidade – que rendeu belíssimos desfiles no acesso: “Egbé Iyá Nassô”. Desta vez,no entanto,o Boi Vermelho,mesmo com a experiência de Bruno Ribas ao microfone,não tem um samba com a força de hits das sextas e sábados de anos passados. As velhas companheiras Portela e Mangueira também não chegam bem à folia neste primeiro momento: quinta colocada em 2024 com o belíssimo “Um defeito de cor”,a Águia de Madureira homenageia Milton Nascimento,mas com pouca inspiração,em “Cantar será buscar o caminho que vai dar no sol”,apesar da firmeza da voz de Gilsinho.

A verde-e-rosa sobre de um mal parecido ao de seu vizinho Paraíso do Tuiuti: dois dos melhores enredos do ano não encontram traduções musicais à altura. De Mangueira vêm os pretos novos,personagens fundamentais e invisibilizados da cultura negra no Rio e no Brasil,em “À flor da terra – No Rio da negritude,entre dores e paixões”. A história está na letra interpretada por Marquinhos Art'Samba,mas faltam melodia e refrão à altura. Por fim,o Tuiuti traz ao mundo “Quem tem medo de Xica Manincongo?”,ideia genial do carnavalesco Jack Vasconcelos sobre a primeira travesti não indígena conhecida no Brasil. O vozeirão de Pixulé faz o possível,mas o samba não decola. Até março,claro,tudo pode mudar.